segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Então, tire o sabonete


                                                                                                                 À memória de Larissa Sayuri Yoshizawa
 
“Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz...” –  2 Co 4:6
 

                 Uma mulher, que vivia apenas com o filho, foi ao mercadinho perto de sua casa. Pegou alguns poucos alimentos e produtos de higiene pessoal, estava próximo do final de semana, mas não havia carne em suas compras. “– Essa semana não vai dar...” – pensava. No caixa, o dinheiro não deu para pagar tudo, então, na hora de escolher o que tirar, elegeu o único sabonete. “– Sabonete eu tenho em casa...” disse sorrindo à moça do caixa. Mentira. Acabou faz duas semanas. No caminho de volta para casa, pensava, como iria contar ao filho a falta do sabonete? “ – Faz tempo que ele está me pedindo isso...” “– Ainda bem que ele entende. Bom, no máximo, semana que vem eu compro.”

                

               A mãe teve que fazer uma simples escolha um tanto simples, no entanto, o resultado dessa escolha causara-lhe tamanho descontentamento. Melhor seria não ter tirado nada da cesta. O que ficou para traz, foi um sabonete, mas a sensação era ter deixado no mercado seu amor próprio... “ – Poxa vida, trabalho tanto pra isso? ” Com os olhos lacrimejando, lembra-se de ter visto, na casa da patroa, um vídeo onde uma moça, com câncer, dizia que das trevas resplandece a luz. Tal lembrança lhe fortalece. Enxuga os olhos, prepara um sorriso, coloca as compras no chão e abre o portão. É hora de dizer ao filho que semana que vem comprará o sabonete. Talvez até prometa lhe comprar aquele bolinho da Maria que ele gosta.

                

                – O sabonete?

                – Ué, que estranho, eu comprei sim filho. Será a moça do caixa não passou? Depois eu volto lá...

                – Ah, mãe, justo amanhã que vou jogar futebol na escola não vou tomar banho direito?

                – Mas filho, a culpa não foi minha, eu comprei. A moça do caixa que esqueceu...

                

                 Mais tarde, às costas do filho, a mãe senta na cama e chora, em silêncio... Não quero que ele acorde, pensa. O sentimento de culpa pela mentira, lhe tira a paz e o sono. Sem conseguir dormir e, com a moça do vídeo latejando em sua cabeça, dizendo que das trevas vem a luz, ela só sabe chorar. Pensando não saber orar, ela ensaia uma conversa com Deus. Sabe que não o conhece a bíblia muito bem, mas acredita nas palavras que a moça leu. Tem fé que essa dificuldade vai passar e, um dia há de ir ao mercado e comprar tanta coisa que nem vai conseguir trazer nas sacolas, vai ter que mandar entregarem.

               

               “ – Deus, eu sei que o Senhor está me ouvindo... quero te pedir perdão por ter mentido ao meu filho, eu não tive coragem de dizer-lhe a verdade. Confesso que fiquei envergonhada. Me perdoe Deus... Eu estou aqui falando, mas nem sei se é isso que o Senhor gostaria de ouvir. O Senhor disse que das trevas vem a luz, eu acho que estou no meio das trevas, tenho tantos problemas e dificuldades que não vejo nada de bom na minha vida. É só luta, só dificuldade, até em tirar a minha vida eu já pensei. Só não faço pelo filho. Peço que o Senhor me ajude a ver essa luz, eu não quero morrer, o que eu quero ser feliz. Me ajude Deus. Eu estou no meio das trevas sim, da escuridão... Peço que o Senhor, faça os dias passarem mais rápido, até a semana que vem só, porque daí vou receber e poderei comprar o sabonete para o meu filho. Obrigada. Amém.

               Eduardo Viver

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